Intróito/Fil. 2, 10, 8 e 11
Isaías 53,1-12
1 Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do Senhor? 2 Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia seduzir-nos. 3 Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. 4 Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. 5 Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas. 6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. 7 Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu a boca.) 8 Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo? 9 Foi-lhe dada sepultura ao lado de fascínoras e ao morrer achava-se entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca tenha havido mentira. 10 Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada. 11 Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas iniqüidades. 12 Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo pelos culpados.
São Lucas 22,39-71 e 23,1-53
39 Conforme o seu costume, Jesus saiu dali e dirigiu-se para o monte das Oliveiras, seguido dos seus discípulos. 40 Ao chegar àquele lugar, disse-lhes: Orai para que não caiais em tentação. 41 Depois se afastou deles à distância de um tiro de pedra e, ajoelhando-se, orava: 42 Pai, se é de teu agrado, afasta de mim este cálice! Não se faça, todavia, a minha vontade, mas sim a tua. 43 Apareceu-lhe então um anjo do céu para confortá-lo. 44 Ele entrou em agonia e orava ainda com mais instância, e seu suor tornou-se como gotas de sangue a escorrer pela terra. 45 Depois de ter rezado, levantou-se, foi ter com os discípulos e achou-os adormecidos de tristeza. 46 Disse-lhes: Por que dormis? Levantai-vos, orai, para não cairdes em tentação. 47 Ele ainda falava, quando apareceu uma multidão de gente; e à testa deles vinha um dos Doze, que se chamava Judas. Achegou-se de Jesus para o beijar. 48 Jesus perguntou-lhe: Judas, com um beijo trais o Filho do Homem! 49 Os que estavam ao redor dele, vendo o que ia acontecer, perguntaram: Senhor, devemos atacá-los à espada? 50 E um deles feriu o servo do príncipe dos sacerdotes, decepando-lhe a orelha direita. 51 Mas Jesus interveio: Deixai, basta. E, tocando na orelha daquele homem, curou-o. 52 Voltando-se para os príncipes dos sacerdotes, para os oficiais do templo e para os anciãos que tinham vindo contra ele, disse-lhes: Saístes armados de espadas e cacetes, como se viésseis contra um ladrão. 53 Entretanto, eu estava todos os dias convosco no templo, e não estendestes as mãos contra mim; mas esta é a vossa hora e do poder das trevas. 54 Prenderam-no então e conduziram-no à casa do príncipe dos sacerdotes. Pedro seguia-o de longe. 55 Acenderam um fogo no meio do pátio, e sentaram-se em redor. Pedro veio sentar-se com eles. 56 Uma criada percebeu-o sentado junto ao fogo, encarou-o de perto e disse: Também este homem estava com ele. 57 Mas ele negou-o: Mulher, não o conheço. 58 Pouco depois, viu-o outro e disse-lhe: Também tu és um deles. Pedro respondeu: Não, eu não o sou. 59 Passada quase uma hora, afirmava um outro: Certamente também este homem estava com ele, pois também é galileu. 60 Mas Pedro disse: Meu amigo, não sei o que queres dizer. E no mesmo instante, quando ainda falava, cantou o galo. 61 Voltando-se o Senhor, olhou para Pedro. Então Pedro se lembrou da palavra do Senhor: Hoje, antes que o galo cante, negar-me-ás três vezes. 62 Saiu dali e chorou amargamente. 63 Entretanto, os homens que guardavam Jesus escarneciam dele e davam-lhe bofetadas. 64 Cobriam-lhe o rosto e diziam: Adivinha quem te bateu! 65 E injuriavam-no ainda de outros modos. 66 Ao amanhecer, reuniram-se os anciãos do povo, os príncipes dos sacerdotes e os escribas, e mandaram trazer Jesus ao seu conselho. 67 Perguntaram-lhe: Dize-nos se és o Cristo! Respondeu-lhes ele: Se eu vo-lo disser, não me acreditareis; 68 e se vos fizer qualquer pergunta, não me respondereis. 69 Mas, doravante, o Filho do Homem estará sentado à direita do poder de Deus. 70 Então perguntaram todos: Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu: Sim, eu sou. 71 Eles então exclamaram: Temos nós ainda necessidade de testemunho? Nós mesmos o ouvimos da sua boca.1 Levantou-se a sessão e conduziram Jesus diante de Pilatos, 2 e puseram-se a acusá-lo: Temos encontrado este homem excitando o povo à revolta, proibindo pagar imposto ao imperador e dizendo-se Messias e rei. 3 Pilatos perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Jesus respondeu: Sim. 4 Declarou Pilatos aos príncipes dos sacerdotes e ao povo: Eu não acho neste homem culpa alguma. 5 Mas eles insistiam fortemente: Ele revoluciona o povo ensinando por toda a Judéia, a começar da Galiléia até aqui. 6 A estas palavras, Pilatos perguntou se ele era galileu. 7 E, quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes, pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém. 8 Herodes alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum milagre operado por ele. 9 Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus nada respondeu. 10 Ali estavam os príncipes dos sacerdotes e os escribas, acusando-o com violência. 11 Herodes, com a sua guarda, tratou-o com desprezo, escarneceu dele, mandou revesti-lo de uma túnica branca e reenviou-o a Pilatos. 12 Naquele mesmo dia, Pilatos e Herodes fizeram as pazes, pois antes eram inimigos um do outro. 13 Pilatos convocou então os príncipes dos sacerdotes, os magistrados e o povo, e disse-lhes: 14 Apresentastes-me este homem como agitador do povo, mas, interrogando-o eu diante de vós, não o achei culpado de nenhum dos crimes de que o acusais. 15 Nem tampouco Herodes, pois no-lo devolveu. Portanto, ele nada fez que mereça a morte. 16 Por isso, soltá-lo-ei depois de o castigar. 17 [Acontecia que em cada festa ele era obrigado a soltar-lhes um preso.] 18 Todo o povo gritou a uma voz: À morte com este, e solta-nos Barrabás. 19 (Este homem fora lançado ao cárcere devido a uma revolta levantada na cidade, por causa de um homicídio.) 20 Pilatos, porém, querendo soltar Jesus, falou-lhes de novo, 21 mas eles vociferavam: Crucifica-o! Crucifica-o! 22 Pela terceira vez, Pilatos ainda interveio: Mas que mal fez ele, então? Não achei nele nada que mereça a morte; irei, portanto, castigá-lo e, depois, o soltarei. 23 Mas eles instavam, reclamando em altas vozes que fosse crucificado, e os seus clamores recrudesciam. 24 Pilatos pronunciou então a sentença que lhes satisfazia o desejo. 25 Soltou-lhes aquele que eles reclamavam e que havia sido lançado ao cárcere por causa do homicídio e da revolta, e entregou Jesus à vontade deles. 26 Enquanto o conduziam, detiveram um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e impuseram-lhe a cruz para que a carregasse atrás de Jesus. 27 Seguia-o uma grande multidão de povo e de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam. 28 Voltando-se para elas, Jesus disse: Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorai sobre vós mesmas e sobre vossos filhos. 29 Porque virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, os ventres que não geraram e os peitos que não amamentaram! 30 Então dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! 31 Porque, se eles fazem isto ao lenho verde, que acontecerá ao seco? 32 Eram conduzidos ao mesmo tempo dois malfeitores para serem mortos com Jesus. 33 Chegados que foram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, como também os ladrões, um à direita e outro à esquerda. 34 E Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. Eles dividiram as suas vestes e as sortearam. 35 A multidão conservava-se lá e observava. Os príncipes dos sacerdotes escarneciam de Jesus, dizendo: Salvou a outros, que se salve a si próprio, se é o Cristo, o escolhido de Deus! 36 Do mesmo modo zombavam dele os soldados. Aproximavam-se dele, ofereciam-lhe vinagre e diziam: 37 Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo. 38 Por cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos judeus. 39 Um dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! 40 Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo suplício? 41 Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos crimes, mas este não fez mal algum. 42 E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! 43 Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso. 44 Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona. 45 Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio. 46 Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou. 47 Vendo o centurião o que acontecia, deu glória a Deus e disse: Na verdade, este homem era um justo. 48 E toda a multidão dos que assistiam a este espetáculo e viam o que se passava, voltou batendo no peito. 49 Os amigos de Jesus, como também as mulheres que o tinham seguido desde a Galiléia, conservavam-se a certa distância, e observavam estas coisas. 50 Havia um homem, por nome José, membro do conselho, homem reto e justo. 51 Ele não havia concordado com a decisão dos outros nem com os atos deles. Originário de Arimatéia, cidade da Judéia, esperava ele o Reino de Deus. 52 Foi ter com Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. 53 Ele o desceu da cruz, envolveu-o num pano de linho e colocou-o num sepulcro, escavado na rocha, onde ainda ninguém havia sido depositado.